"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." Clarice Lispector

18.11.09

Cadê a lógica?

Eu ouvi alguém falando de bobagens
De festas, de roupa, essas coisas assim
Eu vi alguém que se preocupava com o cabelo
Com as unhas quebradiças, com marcas, com estilo
E não sei o porquê que nesse exato momento me veio a Àfrica à cabeça
Eu pensei na fome,
Pensei na magreza, no estado subumano
Na pobreza, no descaso,
Na negligência, na falta de humanismo
Pensei em jantares de gala
Ao mesmo tempo que pensava nas migalhas
Pensei em belas aves caras
Enquanto pensava em urubus rondando a carcaça humana
Pensei nas peças da nova moda
Pensando também na nudez escancarada
Pensei em belas famílias animadas
Pensando na mãe ao filho morto agarrada
E pensei no luxo
Enquanto no lixo pensava
E os seres humanos que inventam tudo
Esqueceram de inventar essa lógica!

12.11.09

Enfermidade

Eu caminho pelas ruas,
Vendo corpos contaminados,
Invadidos, ameaçados, dilacerados
Identifico em cada rosto uma dor
Não há qualquer corpo sem odor...
Eu caminho pelas ruas
Onde bactérias ambulantes
Tentam resistir, subsistir
Torcendo para que sua doença não o leve à morte
Lutando em vão, à própria sorte
A chagas invade o coração,
O câncer come a carne
Os fungos esquecem que você está vivo
E te habitam, povoam teu corpo
Moram em teus póros
Há mais doenças que seres humanos,
Há mais medo que dias de vida
Vitorioso é o que consegue envelhecer
Aquele que não é pego no meio do caminho,
Que não vê a rasteira da dor
Que não sente a morte te sorrindo
Há mais doença que esperança
Há mais doença que futuro
Teu corpo é mortal
Tua dor infernal
Teu corpo é perecível
Tua perda irreversível
E para morrer
Basta mesmo estar vivo!

5.11.09

Implacabilidade

O relógio está passando,
Seu tempo esgotando...
O tempo implacável consome sua carne,
Muda o que você tinha como inalterável,
Traz solução para o que era irremediável...
O ponteiro caminha sobre as horas,
O sol nasce, o sol se põe...
Você conta os minutos,
Você repudia muitos dias,
Mas o engraçado é que no final te farão falta
Os dias repudiados, os minutos contados...
Há tantas diferenças!
Mas todas elas caminham para o fim...
Todas elas se abraçarão ao final do túnel,
Se unirão em direção ao nada!
Enquanto seu tempo passa,
Enquanto seu cronômetro regressivo dispara,
O que você está fazendo?
Do que você se ocupa?
Ou você se ocupa muito com horas vagas?
O que você está fazendo da sua vida?
O que você faz dessa única vida que lhe foi disponibilizada?
Pensa em jogar tudo para o alto,
Não vê sentido em nada,
Olha tudo com olhos alheios,
Finge que vive,
Mas não conhece o cerne da sua existência...
Alguns acham que podem fazer o que querem,
Outros pensam mesmo que a liberdade não tem fim...
Mas se observar de verdade,
Tudo é único...
Nunca mais se terá 23 anos,
Muitas vezes não poderá reverter uma atitude,
Se deparará com momentos incorridos,
Momentos que não voltarão jamais...
Suas escolhas podem mudar o curso dessa vida,
Dessa única vida que você tem nas mãos...
Pense bem,
Separe o que o que vale a pena do que faz mal...
No final das contas pode nem valer nada,
Mas todo mundo tem o direito de ser feliz,
Enquanto por aqui existir...